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segunda-feira, 17 de novembro de 2014

As mil e uma maneiras de falar

Uma conhecida parábola árabe conta que um sultão sonhou que havia perdido todos os dentes. Logo que despertou de seu desconfortável sono, mandou chamar um adivinho para que interpretasse o que havia sonhado.
– Que desgraça, senhor! – Exclamou o adivinho. – Cada dente caído representa a perda de um parente de vossa majestade.
– Mas que insolente – gritou o sultão, enfurecido. – Como te atreves a dizer-me semelhante coisa? Fora daqui! – e então chamou os guardas e ordenou que lhe dessem cem açoites. Mandou que trouxessem outro adivinho e lhe contou sobre o sonho. Este, após ouvir o sultão com atenção, disse-lhe:
– Excelso senhor! Grande felicidade vos está reservada. O sonho significa que haveis de sobreviver a todos os vossos parentes!
A fisionomia do sultão iluminou-se num sorriso, e ele mandou dar cem moedas de ouro ao segundo adivinho. E quando este saía do palácio, um dos cortesãos lhe disse admirado:
– Não é possível! A interpretação que você fez foi a mesma que o seu colega havia feito. Não entendo porque ao primeiro ele pagou com cem açoites e a você com cem moedas de ouro.
– Lembra-te meu amigo – respondeu o adivinho – que tudo depende da maneira de dizer. 
Parábola retirada daqui.
Na minha demanda por uma melhor "eu", tenho percebido que a forma como eu digo as coisas é algo que tenho mesmo de mudar. Eu sei que só digo a verdade. Ponto assente. Mas também sei que toda a gente diz que gosta de frontalidade, mas lá no fundinho ninguém gosta. E mais frontal que eu é difícil. E são incontáveis os dissabores graças a este feitio, para não lhe chamar defeito. Ainda hoje aconteceu uma situação do género e sei que a pessoa estava a "pedi-las", e que o que eu disse é bem verdade, mas a forma como o disse foi como se lhe tivesse atirado uma pedra. 
E que ganhei eu com isso? Nada. E o que vai a pessoa retirar do que lhe disse? Que me detesta. Compreendo agora, com a cabeça fria, que a pessoa não vai reflectir no que lhe quis dizer, não vai atingir que a sua atitude provocou a minha reacção, essa pessoa vai lembrar-se de como a fiz sentir e vai detestar-me. 
Podia tê-lo dito de forma a que a pessoa não se sentisse atacada, mas não. Já diz a parábola: "tudo depende da maneira de dizer".

4 comentários:

A Mãe da C disse...

Tão verdade, Catarina!
E é com a experiência de vida que vamos controlando este feitio... Vamos ganhando bagagem suficiente para lidar com a falta de maturidade dos outros, vamos aprendendo a brincar com as palavras.
Como te compreendo...

Unknown disse...

É verdade. Mas eu não tenho emenda. Sou directa!

Catia Ferreira disse...

r: Fazes bem. Não é um programa que nos tire muitos minutos. Porém, quando começar a fazer o Bikini Body devo estar a trabalhar e, por isso, também vai ser um desafio conseguir arranjar tempo mas sei que vou conseguir. Tem de ser! Dei-me 6 meses para ter a barriga que tanto quero*

Gigi Loop disse...

Sofro de mal semelhante. E entendo o que dizes Mas estou ensinando a controlar os meu ímpeto inicial de dizer a verdade doe a quem doer. Ser sincero assim pode ser uma caminhada solitária... Bom é que vc está vendo assim é eu tb : )