Ontem fui ao segundo funeral em duas semanas, e hoje sinto-me emocionalmente exausta.
A morte nunca me meteu aflição, lido bem com ela, sei que é inevitável, sei que vou sofrer horrores quando for a vez de alguém que me seja realmente próximo, mas em relação à minha só espero que não seja sofrida.
A mim o que me mete aflição é a terceira idade. É a falha do corpo, da mente e acima de tudo dos nossos familiares.
Antigamente, muitos ou poucos filhos, as mulheres ficavam em casa, mal ou bem, havia sempre alguém disponível e os nossos velhos eram mais respeitados, e tinham uma tranquilidade maior em relação ao futuro. As mulheres começarem a trabalhar como os homens é algo muito recente e eu acho que o nosso país e sociedade não estão preparados ainda para isso, a nível económico, de acção social, de estruturas e mentalidades.
O primeiro dos funerais a que fui, não quero entrar em pormenores, mas foi de alguém que se suicidou. Era das pessoas mais alegres que conheci até se reformar. Até ficar em casa o tempo todo, só com o marido, na terra natal onde nada se passa. Isolada.
Ontem foi de um tio do meu marido. No caso dele já estava a sofrer há anos e já se esperava este resultado. O que me meteu dó foi ver a avó do meu marido, 90 anos, a ter de lidar com a morte de um filho. A avó do meu marido, mora numa aldeia no cu de Judas, sozinha. Mora sozinha há quarenta anos. É ela, o terço e a televisão. Dia após dia. Há Qua-ren-ta anos.
Os filhos não se entendem uns com os outros. Todos acham que fazem o melhor que podem para a ajudar e os outros não. E se querem saber eu acho que nenhum faz nada de jeito. Nenhum deles! Acho que é triste ter 90 anos, o corpo já mal se equilibrar e ter de passar segunda,terça,quarta,quinta,Sexta,sábado,domingo,Segunda, terça,quarta,quinta,Sexta, sábado,domingo....sozinha. Assim com uma visita esporádica de um ou outro.
As pessoas têm a sua vida, e empregos porque o dinheiro, é claro, faz falta. Mas pergunto me o que é mais importante nesta vida. O que nos diz a consciência quando é tarde de mais, ou a nossa vez....
Já disse que estou exausta?
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