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quinta-feira, 16 de outubro de 2014

O tempo não pára

Não estender a mão a quem merece, magoa. Eu sinto tudo cá dentro. As pessoas falam sem pensar, e eu perco horas a pensar no que disseram. Eu não queria ser assim, mas a natureza das pessoas é como é. E a minha é sentir tudo a peito, no peito. Quando é injusto, quando é ingrato. Cusquices e afins não me afectam. Injustiça e ingratidão, sim. Fazer mal a quem não fez mal nenhum. A minha tendência é para abrir a boca e deitar cá para fora. Fazer ver o ridículo da situação. Mas, quando as pessoas são de ser "má raça", são palavras que gasto à toa. Por isso, tenho calado. Dizem que faço bem. Não sei. Mas sei o que sinto, cá no peito.
Liguei o rádio, como sempre. Estava a tocar "o tempo não pára" da Mariza. Caíram-me as lágrimas, como sempre. Ouvir essa música faz-me pensar nele, o David. Sempre. Não éramos amigos chegados, mas foram quase quatro anos de trabalho. Seriam sete, se não fossem os três anos de baixa, em luta contra a doença. E finalmente voltou. A doença regredia. E voltou diferente. Eu continuava a mesma, tinha travado batalhas que me pareciam duríssimas, mas que nada eram comparadas com a dele. E um dia, uma pessoas dessas, "má raça", ofendeu-me. E o David sorriu-me e disse: "Não. A sério que não te queres importar com isto. Sabes a importância disto daqui a um mês? E daqui a três anos? E daqui a vinte? A vida é tão curta.Importa-te com as coisas boas. Eu já não me importo com estas coisas. A sério que não. Não quero saber de "guerras". Ele queria mostrar-me que este tipo de coisas não são nada, comparado com aquilo que é tudo: a saúde, os nossos, a alegria... o tempo. Coisa rara. O tempo dele foram 27 anos. E eu oiço a Mariza com as lágrimas a cair, a pensar que já não vou a tempo de pedir ao tempo mais tempo para o ver sorrir. E agradeço ao David. Não éramos amigos chegados, mas nos momentos em que o meu peito parece explodir de desilusão, penso nele e nas palavras dele. E o meu peito, agora em vez de raiva sente tristeza, por ele não ter tido mais tempo, sente saudade e sente que não posso perder sorrisos... mas posso perder estas "guerras", que não terão a mesma importância daqui a 1 mês, ou 3 anos, ou mesmo 20, que sejam.

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