Já tive algumas epifanias na vida. Para quem não sabe é uma súbita sensação de compreensão de alguma coisa. A mais forte que tive veio através de uma conversa com o meu marido, na altura namorado, em Janeiro de 2008. Eu estava num estado deplorável. Tinha passado 5 anos a trabalhar e a estudar muito, em que pouco ou nada gozei a minha juventude, deixando toda a gente orgulhosa e convencida de que valeria a pena o sacrifício.
E depois para acabar o curso tive de estagiar 4 meses gratuitamente (para quem não vive às custas dos pais nem que seja um só mês a gastar sem ganhar é duro), e comecei a procura de emprego na área. E sabe Deus que me candidatei a tudo, devo ter enviado sem exagero uns 2000 currículos. E fui a umas 20 entrevistas em meios de comunicação social locais e nacionais, e todos queriam um estágio mínimo de 6 meses sem ganhar e depois se veria. Com estas coisas já eu estava há 6 meses sem ganhar e não podia sujeitar-me a outros seis! Comecei a enviar currículos para qualquer área e aceitei emprego numa loja. E o tempo foi passando e não surgia nada na minha área e eu chorava quase todos os dias. Chegava a casa do trabalho e chorava.
E um dia o meu namorado farto de me ver chorar disse-me: "Tu só serás feliz quando aceitares o que fazes, quando vires que o que fazes não é mau e que quem está na área que trabalhas gostava de ter o teu horário, o teu salário garantido com tudo pago a 5 minutos de casa, quando vires que não trabalhar naquilo que estudaste não é de todo a pior coisa do mundo."
E pronto eu tive uma epifania e vi que o que ele dizia era verdade. E passados 4 anos ainda lá estou. Ainda não valeu a pena trocar de trabalho. O único contra é não estar na área que estudei, não precisava de aulas de Semiótica para fazer o que faço, mas de resto desde o momento em que nós aceitamos orgulhosamente aquilo que fazemos vemos o lado bom, é aquilo do copo meio vazio ou cheio.
E isto está enorme e ninguém vai ler.
29 comentários:
Eu li. E da parte de alguém que acaba agora um curso de mais de 5 anos e está a reavaliar outras hipóteses e aquilo que quer na vida, I know what you mean..
Eu também li e continua a achar preocupante que alunos universitários não tenham saídas profissionais...enfim <-<
http://realdreams-liliana.blogspot.com/
Compreendo e já me vi exactamente na mesma situaçao, a trabalhar igualmente numa loja a 2 minutos de casa, depois de muito me lamentar percebi o mesmo que tu.
Agora já não é assim mas continuo a dizer que gostei muito de trabalhar numa loja, de decoração no caso :)
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Assusta-me tanto essa realidade tão cruel... :(
Eu li. E apesar de ser, por enquanto, uma jovem universitária, já me consciencializei de que se calhar nem vou encontrar emprego na minha área, pelo que tudo o que vier será bem-vindo :)
a epifania que tiveste chama-se humildade. Mais vale tarde que nunca, pois há quem prefira ficar sem fazer nada e achar-se um coitado o resto da vida. kiss
Querida Panda, temos de compreender que um curso não garante o emprego dos nossos sonhos. Por agora, tenho a sorte de trabalhar no que quero... e sou muito feliz assim. Mas sei que não terei a mesma sorte sempre. O que importa é trabalhar, ter um salário, organizar a nossa vida, gerir as nossas contas. Um trabalho deve ser, idealmente, um prazer. Mas também não tem de o ser. Se tivermos de trabalhar noutra coisa, não vem mal ao mundo disso. Não me importaria. Até porque, arranjar um outro trabalho não me impede de continuar a lutar pelo jornalismo. Não te sintas mal, esse pensamento é perfeitamente natural.
A minha mana, por exemplo, licenciou-se e, passado um ano, continuava a não ter trabalho na área. Então pôs-se a trabalhar numa loja de roupa, pôde concretizar a vontade de ir viver junta... e agora vai abrir uma loja só dela. Os sonhos somos nós que os construímos. :)
Eu li tudo... porque contaste, resumidamente, a minha história =) *******
Eu li tudo, e concordo com tudo o que disse a S*. O importante é termos um trabalho e organizarmos a nossa vida, e temos que aprender a viver com isso mesmo que não seja o que idealizamos. A partir daí é só sermos felizes :)
Eu também li!
E já passei por isso.
Estudaste Semiótica!!??? Eu também! Já agora onde?? Mas cá para nós, Semiótica serve para alguma coisa!? Só se for para brilhar em dizer à malta de engenharia e da matemática que estuda coisas aterradoras, "olha... eu estudei Semiótica" ahahahah A que nós, alunos do IADE, simpaticamente apelidávamos de Meia-Optica :)
eu li, e li tudinho :) concordo contigo e entendo-te, e sei como é no inicio, quando não conseguimos nada, principalmente pq cada vez é mais complicado trabalhar na nossa área.. O realmente importante é gostar do que fazemos e dar tudo nisso, e ter consciência que temos muita sorte, e as vezes não sabemos.. entendes? :)
Eu li. Hoje estou especialmente triste e envergonhada pelo nosso país. Fico feliz de teres conseguido equilibrar os sentimentos mas acredito que não trabalhar na área em que se estudou seja difícil. Keep your dreams alive :)
E quando, com mais de 30 anos, te propõem estágio não remunerado? A mim, ainda na semana passada me aconteceu... haja paciência, que já trabalhei muito à borlix, chegou!
Eu li e é pena ele ter razão, é pena não sermos aquilo que seonhámos, ao menos podíamos ter experimentado e depois se não fosse o quer querimos trabalhavamos em outra área. enfim
Ana Ferreira estudei Semiótica na Universidade do Minho com o Moisés Martins, que figura :D Era o cadeirão do curso, mas eu passei à primeira com a pior nota que tive na Universidade: 14... não deixa saudades a ninguém não...
Fez-me mesmo bem ler isto! ( e li tudinho!) Encontro-me exactamente nesta situação e, neste momento, começo a ponderar outras opções.É difícil pois gosto mesmo do que faço, mas é bom saber que existem outros caminhos. Obrigada :)
eu li e concordo com tudo.. e percebo-te..como te percebo :P
Eu li e adorei o facto de partilhares connosco algo que te fez sofrer e amadurecer....
Um beijinho e... espero que continues feliz com aquilo que fazes... mas... nunca nunca percas esperança....
li sim senhora, às vezes tb me apetece arriscar em outras áreas que não a minha pois estou cansada desta instabilidade...mas falta-me a coragem de deixar aquilo que realmente gosto :S
Exactamente! A verdade é que pode ser frustrante não trabalhar na área. E se pensarmos no dinheiro que gastamos com 5 anos de estudos e que poderiam ter sido canalizados para outros projectos de vida? Mas lamentar-se não serve de nada. Há que ser feliz com o que temos, e nunca baixar os braços.... E olha que a nossa área tem salários péssimos e tanta instabilidade ;)
obrigada minha querida panda, acho que me fez bem ouvir isso...uma vez que o meu estágio acaba sexta feira e trabalho nem vê-lo... :S obrigada. beijinhos
Pois eu li e gostei daquilo que li. Revi-me em tudo. Cheguei aqui através de um link de um outro blogue e dou de caras com este post, assim, escancarado, sem avisos prévios. Tenho quase 28 anos e também sou licenciada na dita área, também eu me sujeitei a estágios não remunerados e tive agora que recusar mais um. De momento estou desempregada e já fiz de tudo um pouco desde Call-Center a recepcionista. Sempre me queixei, está claro, mesmo com um salário ao fim do mês não era aquilo que tinha desejado a nível profissional. E não é que numa altura em que estava quase a desesperar, depois de mais uma sessão "Maria, tem 5 empregos na sua área", dos quais 4 são estágios curriculares e a única oferta remunerada exige 5 anos de experiência"...dou de caras com este post. Obrigada pelo texto e pela partilha. A mim, neste momento em particular, funcionou assim como um "abrir de olhos". Afinal também nunca percebi muito bem porque precisamos da Semiótica para sermos felizes.
Ana se puder animar alguém com o post. Temos de ser realistas e ponto final. Não está fácil mas temos de seguir com a vida. Não me digas que vieste cá ter com o post na pipi sem meias? ela falou mal de mim mas arranja-me fregueses LOL
Noutros tempos concluir a universidade era sinal de "emprego garantido". Hoje em dia muitos licenciados têm ainda mais dificuldades para arranjar emprego do que os que só têm o 12º. Não se arranja trabalho na área que se estudou, mas há outras coisas, há que ser desenrascada.
Beijinhos*
eu li tudo e não podiar concordar mais com as tuas opções.
é muito chato não encontrar trabalho na nossa area depois de tanto investimento, intelectual e financeiro, mas pior é ficar em casa à espera que algo venha parar ao colo. já nenhum curso garante emprego pelo que temos ser versateis e agarrando outras oportunidades. temos que fazer pela vida e mostrar que lutamos.
bjokas
fico contente por teres tido essa epifania. eu estou agora desempregada, mas já trabalhei em muitos sítios que não eram da minha área, e sempre arrisquei e mudei, não me sentia satisfeita com o que tinha, psicologicamente e financeiramente falando. depois decidi ter o bebé, e parei de trabalhar, entretanto instalou-se a crise e agora vejo-me grega para arranjar emprego. e ando à procura noutras áreas que não a minha. mas está tão difícil, que cá em Portugal quem tem um emprego, neste momento deve saber mantê-lo.
bjs*
Olá Panda!
Vim parar ao teu blog através do Google quando fazia pesquisas com as palavras "licenciado e desempregado". Li o teu post e realmente identifiquei-me muito com ele, pois estou exactamente na tua situação. Também sou licenciada, no meu caso desde 2003em Geografia e embora tenha trabalhado na área até 2006 (depois não renovaram contrato)neste momento trabalho numa área que não tem nada a ver com a minha, pois após enviar "n" currículos e ir a não sei quantas entrevistas em Câmaras Municipais e afins através de concursos para lugares que basicamente tinham sempre "dono" decidi tentar outras áreas e consegui o meu actual trabalho. Tou com um salário de cerca de 600€ e com uma frustração enorme,porque é um trabalho que não gosto e com o qual não me identifico nada e pelo andar do país as perspectivas de o deixar estão cada vez piores.
Ando a ficar um bocado deprimida e o ao ler o teu post fiquei um bocadinho melhor porque me fez ver que há imensas pessoas na minha situação e que nem por isso se deixam abalar. Vou tentar ser mais positiva e tentar mentalizar-me que afinal o meu trabalho apesar de não ser o que quero se calhar não é tão mau assim, continuando claro a tentar a minha área mas tentando não me ir abaixo.
Obrigada pelo post e boa sorte para ti no futuro.
Olá Eu, infelizmente somos milhares nesta situação e recentemente vi um economista a dizer na TV que quem tem um emprego mesmo que o deteste deve mantê-lo nos próximos tempos. Também ando na ordem dos 600€ mas mais vale esse que nenhum. E acredita que somos sortudas por pelo menos ter esse. E há que não nos deixar abater. Beijinho e boa sorte!
Olá :) Bem... esta temática diz-me muito. Trabalhei durante 5 anos num sítio onde nunca fui valorizada, nunca tive um aumento e os últimos sócios tratavam-me por "miúda". Isso para mim foi bater no fundo. Despedi-me mesmo não tendo outro trabalho. Emigrei. E neste momento encontrei um trabalho na minha área e que realmente adoro. Não há nada como arriscar :)
www.rockandjammies.blogspot.pt
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